A novela “Vale Tudo”, exibida atualmente pela Globo em formato de remake, voltou a dominar as redes sociais nesta segunda-feira (19). O motivo? Uma fala polêmica da personagem Odete Roitman, interpretada por Deborah Bloch, que provocou forte repercussão ao ser considerada por muitos como racista.
Na cena em questão, Celina (Malu Galli) se surpreende com a aparente aceitação de Maria de Fátima (Bella Campos) por parte de Odete, já que a vilã sempre se mostrou rígida e preconceituosa quanto aos relacionamentos do neto, Afonso Roitman (Humberto Carrão).
“Estou surpresa com você, Odete. Implicou tanto com a Solange Duprat [Alice Wegmann] para aprovar essa moça. Você sabe que eu não sou racista, mas a Fátima é negra”, diz Celina.
A resposta de Odete causou indignação: “E acha que eu não vi isso, Celina? Não sou cega. Mas fazer o quê? A mocinha Duprat é branca, mas é uma insolente. Ia me criar problemas o resto da vida se firmasse uma relação com o Afonso. Todo mundo pode ter a sua função, Celina. O que importa é que as pessoas façam o que eu quero. E ela nem é tão preta assim.”
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Internet dividida: vilania fiel ou discurso ultrapassado em Vale Tudo?
A fala rapidamente se espalhou nas redes e dividiu a opinião dos internautas. De um lado, fãs da novela defenderam que a personagem é uma vilã clássica, e que falas como essa são fieis à sua construção original, marcada por elitismo, frieza e preconceito.
Do outro, muitos apontaram que, mesmo sendo uma vilã, o conteúdo da fala é profundamente ofensivo e problemático, especialmente quando reproduzido em um contexto atual, sem uma contraposição imediata dentro da própria narrativa.
Odete Roitman e o retrato do racismo estrutural
Criada originalmente em 1988, Odete Roitman se consagrou como um ícone da vilania brasileira, eternizada por Beatriz Segall. O remake trouxe Deborah Bloch para o desafio de reviver essa figura poderosa, cruel e manipuladora. E, de fato, a nova versão da personagem vem sendo elogiada pelo público desde sua estreia.
Porém, ao resgatar diálogos com teor abertamente racista, como o da cena com Celina, a novela levanta um questionamento importante: a representação de vilões deve seguir os mesmos moldes do passado, mesmo que isso envolva discursos discriminatórios?
Ficção, responsabilidade e debate social
Muitos internautas defenderam que a cena pode ter um valor crítico, expondo o racismo estrutural presente nas elites brasileiras, retratado através de uma personagem que, embora fictícia, representa uma realidade incômoda. Outros acreditam que a fala deveria ter sido abordada com mais responsabilidade, ou acompanhada de uma consequência mais imediata dentro da trama.
O fato é que o nome de Odete Roitman voltou aos assuntos mais comentados do X (antigo Twitter). Parte do público celebrou a fidelidade da personagem como vilã, enquanto outra parte considerou que o texto ultrapassou os limites do aceitável — mesmo dentro da ficção.
Conclusão: um espelho incômodo da sociedade?
A fala de Odete Roitman reacendeu um debate necessário: até onde a ficção pode ir ao retratar personagens preconceituosos? E, mais importante: em que momento a representação deixa de ser crítica para se tornar normalização?
Sem dúvidas, “Vale Tudo” entregou mais um momento que vai além da novela e entra no campo do debate social, mostrando que, mesmo em 2025, a televisão ainda tem o poder de provocar reflexões — e controvérsias.
