O influenciador digital Hytalo Santos, natural de Cajazeiras, no interior da Paraíba, se tornou um dos nomes mais populares do Brasil nas redes sociais. Com mais de 30 milhões de seguidores somando TikTok e Instagram, ele conquistou o público com vídeos de dança, humor e ostentação. Mas a ascensão meteórica deu lugar a uma série de denúncias que hoje o colocam no centro de investigações conduzidas pelo Ministério Público do Trabalho e da Infância e Juventude da Paraíba.
Hytalo passou de fenômeno do entretenimento digital à figura envolvida em acusações graves de exploração de menores, trabalho infantil, assédio e más condições de trabalho. Além disso, novas denúncias envolvendo pessoas ligadas ao seu círculo de relações agravam ainda mais o cenário.
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A “Turma do Hytalo” e o império digital
Grande parte da popularidade de Hytalo se construiu em torno da chamada “Turma do Hytalo”, um grupo de adolescentes que vivem com ele e participam ativamente de seus vídeos. O influenciador se refere a eles como seus “filhos” e afirma oferecer alimentação, educação e assistência médica.
Uma das integrantes mais conhecidas do grupo é Kamyla Maria Silva, também influenciadora, que engravidou do irmão de Hytalo, Hyago Santos. Pouco depois do anúncio da gravidez, Hytalo informou que a jovem sofreu um aborto. A situação acendeu alertas e gerou novos relatos de que outras adolescentes ligadas ao grupo também estariam grávidas.
Luxo, ostentação e casamento milionário
Em 2024, Hytalo se casou com o também influenciador Israel Natan Vicente, conhecido como Euro. A cerimônia luxuosa chamou atenção nas redes sociais pelo alto investimento: R$ 700 mil em mimos, como iPhones 15 Pro Max nos convites, e cerca de R$ 4 milhões no total da festa. Entre os padrinhos, esteve a influenciadora e advogada Deolane Bezerra, reforçando a imagem de ostentação do casal.
O início das investigações
Desde dezembro de 2024, o Ministério Público da Paraíba e o Ministério Público do Trabalho da 13ª Região apuram denúncias de exploração de menores em vídeos de Hytalo. A promotora Ana Maria França, da Vara da Infância e Juventude de Bayeux, coordena parte das investigações, que miram conteúdos considerados inapropriados para menores de idade.
O MPT formalizou a abertura de inquérito civil em fevereiro de 2025 e incluiu como investigados não apenas Hytalo, mas também seu marido, Israel Natan Vicente, e as empresas Hytalo Santos Youtuber LTDA e Euro Influencer LTDA. A ação analisa desde possíveis irregularidades trabalhistas até indícios de crimes mais graves, como trabalho infantil e abusos contra adolescentes.
Postagens apagadas e movimentações judiciais
Um dos elementos decisivos para o avanço da investigação foi o resgate de conteúdos antigos promovendo a “Turma do Hytalo”, muitos dos quais foram apagados. As imagens mostravam crianças e adolescentes participando de vídeos monetizados, sem contratos formais ou autorização legal para atividade artística.
O Ministério Público já convocou os envolvidos para depoimentos e novas audiências. O caso tramita em caráter de urgência devido à possibilidade de destruição de provas. Adolescentes como Kamila, integrante da “Turma”, deixaram de comparecer a audiências, dificultando o andamento do processo.
Denúncias trabalhistas e pressão política
Além das investigações envolvendo menores, ex-funcionários de Hytalo moveram ações cobrando mais de R$ 700 mil em indenizações. Os relatos incluem assédio moral e sexual, jornadas exaustivas, ausência de direitos trabalhistas e ameaças de retaliação pública.
A vereadora Eliza Virgínia (PP), de João Pessoa, também entrou com representações no Ministério Público alegando que os vídeos de Hytalo promoviam palavrões, piadas com conotação sexual e condutas impróprias para menores. Ela pediu apuração rigorosa, mencionando suspeitas de assédio, exploração infantil e abuso de autoridade.
Defesa se manifesta
A defesa de Hytalo Santos, por meio do escritório Mouzalas Azevedo Advocacia, emitiu a seguinte nota oficial:
“A assessoria jurídica de Hytalo Santos vem esclarecer que está contribuindo ativamente para os procedimentos em andamento, apresentando toda documentação solicitada pelos órgãos responsáveis. Desde o início, tem sido adotada uma postura transparente e colaborativa, reafirmando o cumprimento da legislação vigente.
Reiteramos que as denúncias que embasam os procedimentos que apuram suposta ‘exploração de trabalho infantil’ são inverídicas. E que a alegação de assédio moral e sexual sequer são objetos de apuração pelo Ministério Público do Trabalho, mas de ações trabalhistas ajuizadas por prestadores de serviços, as quais tramitam sob sigilo, e que já estão sendo contestadas e esclarecidas, e que a única sentença judicial até o presente, foi favorável ao Influenciador, pois afastou as informações falsas e difamatórias que foram veiculadas contra sua honra.
Confiamos no trabalho dos órgãos de controle, e reforçamos nosso total interesse no esclarecimento dos fatos veiculados, reiterando o compromisso com a verdade, com o devido processo legal e com a preservação da integridade moral e profissional de todos os envolvidos, tendo em vista que as relações pessoais e profissionais do Sr. Hytalo Santos são pautadas em respeito, ética, legalidade e responsabilidade.”
Nova denúncia: Izabelly Vidal relata agressão sexual
No último fim de semana, a influenciadora Izabelly Vidal, com mais de 675 mil seguidores, voltou aos holofotes após relatar que foi vítima de agressão física e sexual. Ela vinha denunciando nas redes o caso envolvendo Hytalo Santos e buscava apoio no gabinete do vereador Leniel Borel, conhecido pela militância em defesa da infância.
Izabelly afirma que foi agredida por Mateus Ferreira Lima, assessor de Leniel, em um hotel em São João de Meriti (RJ). Ela compartilhou com seus seguidores o pedido de exame de corpo de delito, que identificou escoriações nos pulsos, hematomas nas coxas e traumas nas unhas.
Segundo o laudo obtido pela coluna de Fábia Oliveira, Izabelly relatou que Mateus a tocou em regiões íntimas sem consentimento, mas não houve penetração. Por isso, optou por não realizar exame ginecológico. Conforme a legislação brasileira, o crime de estupro não exige conjunção carnal para ser configurado.
Ela registrou ocorrência na 22ª DP (Penha), acompanhada do pai, e recebeu apoio médico e psicológico. O vereador afastou o assessor imediatamente, e Mateus pediu exoneração do cargo.
Prisão e polêmicas anteriores
Em 2021, durante a pandemia, Hytalo chegou a ser preso em Cajazeiras por promover uma festa com aglomeração, presença de menores e resistência à abordagem policial.
Já em 2023, o influenciador se envolveu em uma briga em um baile funk no Complexo da Penha (RJ), onde teria jogado uma garrafa em uma mulher e agredido outros presentes. Fontes afirmam que ele foi levado por traficantes a um “local reservado” e teve os celulares de sua equipe quebrados.
O que está em jogo
As investigações sobre Hytalo Santos seguem em curso, agora ampliadas com a atuação conjunta dos Ministérios Públicos e acompanhadas de perto pela opinião pública. O caso expõe não apenas os limites da atuação de influenciadores digitais, mas também a necessidade urgente de regras claras para a proteção de crianças e adolescentes em ambientes digitais.
Enquanto isso, Hytalo continua ativo nas redes sociais, mas sob o olhar atento da Justiça e da sociedade.
