A promessa era grande: trazer de volta um dos maiores marcos da teledramaturgia brasileira com uma roupagem moderna. Mas o que se viu no remake de Vale Tudo foi um choque de realidade. Em vez da esperada atualização criativa, o público se deparou com um roteiro perdido entre homenagens e discursos forçados — e o resultado tem sido rejeição em massa.
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O peso de um clássico mal revisitado
Recriar um sucesso do passado exige mais do que boa vontade. É preciso entender o que fez a obra original ser grandiosa e, ao mesmo tempo, adaptá-la de forma inteligente ao presente. No caso de Vale Tudo, isso não aconteceu. A novela tenta reviver tramas e personagens dos anos 80 sem traduzir seus conflitos e dilemas para 2024. O que era provocativo, agora soa datado. O que era elegante, virou exagerado.
Expectativa virou frustração
O remake de Vale Tudo estreou cercado de grandes expectativas. Recriar um dos maiores clássicos da televisão brasileira era, sem dúvida, uma missão ambiciosa. Mas o que se viu, logo nos primeiros capítulos, foi uma avalanche de críticas — e uma rejeição crescente do público.
Pegou muito mal a cena polêmica em que Odete Roitman (Débora Bloch) aparece jogando videogame com seu amante. O momento, pensado como um alívio cômico, gerou desconforto entre os telespectadores. Para muitos, a escolha deturpou a essência da vilã, que sempre foi marcada por frieza, sofisticação e poder. A cena se tornou símbolo do que parece ser o maior problema do remake: a falta de rumo narrativo.
Quando o humor quebra a credibilidade
A construção de figuras icônicas, como a vilã central, perdeu profundidade. Em vez de uma presença poderosa, o público recebeu uma versão mais leve e caricata. Momentos pensados como humorísticos acabaram minando a força dramática da narrativa. E isso, numa novela que sempre foi marcada por tensão e crítica social, é um erro que compromete toda a estrutura.
Roteiro sem fôlego, personagens sem alma
Além da falta de consistência nos perfis dos personagens, há um problema claro no desenvolvimento dos capítulos. Episódios arrastados, pouca evolução nas histórias e ausência de reviravoltas diminuem o impacto da trama. Sem antagonistas de peso nem protagonistas com conflitos relevantes, a novela se torna esquecível. E isso é fatal para um produto que deveria gerar debate e envolvimento.
Militância disfarçada, discurso vazio
Outro ponto que tem incomodado boa parte da audiência é a presença de mensagens políticas inseridas de forma pouco orgânica. O que deveria ser uma crítica sutil à sociedade se transformou em falas forçadas e desconectadas da história. O público nota quando o texto tenta conduzir um pensamento em vez de apresentar um conflito — e reage com desconfiança.
O público mudou — e percebe a superficialidade
Em tempos de redes sociais, onde tudo é comentado em tempo real, uma novela que tenta agradar sem aprofundar acaba sendo rapidamente desmascarada. O veredito nas plataformas digitais é claro: falta ousadia, falta autenticidade e, principalmente, falta respeito com a inteligência do espectador.
Ainda há caminho — mas é preciso reformular com coragem
Há espaço para correções? Sim. Mas isso exige mais do que ajustes pontuais. É necessário reestruturar o roteiro com foco em personagens consistentes, conflitos reais e temas que dialoguem de verdade com a sociedade atual. Resgatar o espírito crítico da obra original não significa repetir fórmulas, mas sim entender sua essência.
Se o remake de Vale Tudo quiser fazer jus ao nome que carrega, terá que parar de tentar agradar a todos — e começar a contar uma história que realmente importe.